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sexta-feira, 6 de abril de 2018

Aprendizado da impotência

Por Pammella Carvalho

Você já ouviu falar no aprendizado da impotência? Talvez não.
Mas, com certeza, já se deparou com situações decorrentes desse aprendizado na sua vida. Quer ver?
Conhece uma mulher que é violentada pelo companheiro, fisicamente ou psicologicamente, há muitos anos e ainda assim permanece com ele?
Conhece mulheres que trabalham em lugares extremamente hostis, no qual são humilhadas, e ainda assim não mudam de emprego?
Talvez essas mulheres tenham aprendido a impotência.
Na década de 1960, alguns cientistas, dentre eles Martin Seligman, realizaram experiências com animais a fim de descobrir algo a respeito do instinto de fuga nos humanos.
Resumindo, essas experiências consistiam em aplicar choques em cães presos numa jaula. A princípio, eles tentavam se livrar dos choques, iam de uma lado a outro, entravam em pânico, mas, depois de um certo tempo, perceberam que não importava a forma que tentassem se livrar dos choques, eles continuavam.
Os cães, então, desistiram, deitaram no chão e aceitaram os choques, sem tentar fugir ou lutar.
Quando a jaula foi aberta, os cientistas esperavam que os cães saíssem correndo. Todos nós, na verdade, diríamos que isso ia acontecer, logicamente. Mas não, os cães não fugiam!
A partir dessa experiência, os cientistas levantaram a hipótese de que quando um animal, ou um ser humano, é exposto à violência contínua e constante, ele apresentará a tendência a se adaptar a essa perturbação de tal forma, que mesmo quando ele tem a oportunidade de se ver livre da violência, o instinto saudável de fuga ou luta está extremamente reduzido, e em vez de escapar, a pessoa fica paralisada.
Ocorre o que chamamos de trivialização da violência. Nós nos adaptamos à violência perpetrada contra nós. E essa adaptação traz sérios danos a nossa alma, a nossa natureza selvagem, a nossa vida criativa, emocional e física.
Fazemos de conta que está tudo bem, enquanto vivemos vidas áridas e cheias de sofrimento. Acreditando que" não é tão ruim assim", ou que "um dia ele vai mudar".
Mas, nem tudo está perdido, é possível sim recuperar esse instinto perdido e começar a consertar o que está errado na sua vida, voltar a ter uma vida plena e cheia de significado. Um desses caminhos é a relação terapêutica desenvolvida num ambiente empático, de respeito e confiança nas potencialidades da pessoa.
Da próxima vez que estiver em contato com mulheres que vivem sob o aprendizado da impotência, não julgue. Seja solidária, acolha.
E se você for essa mulher, permita-se rejeitar essa trivialização e ressignificar as experiências violentas. Há esperança para cada uma de vocês...

Um profissional de psicologia pode facilitar esse processo de mudança e retorno a uma vida saudável, livre de violência.

Créditos especiais a Clarissa Estés, autora do livro Mulheres que correm com os lobos, de quem copiei algumas ideias compartilhadas com vocês nesse texto.
Créditos da imagem: https://medium.com/tulis-aja/mono-no-aware-e6575551b5c8